Auto-resgate
17 Junho, 2006 2 comentários
Mary estava na piscina onde nadava há alguns meses. Na verdade, ela aprendia a nadar. Primeiro aprendeu a não afundar como um prego. Depois, o “nado” cachorrinho. Estava na fase do uso da prancha de isopor, ganhando forças nos pés e nas pernas. Próximo passo: nado livre ou crawl.
A piscina era meia-olímpica, tinha vinte e cinco metros. Naquela aula, porém, dividiram-na em duas de doze e meio. Havia muitas crianças e, apesar de todas estarem no lado mais raso, nenhuma delas enconstava os pés no chão.
Cansativo isto, pensava.
Pelo jeito outros pensavam o mesmo e um menino-sem-noção subitamente se agarra nela. Não, ele não morria de amores por Mary, nem queria ficar mais perto dela, mas em seu esforço inútil de se manter segurando na raia e não afundar, ele acabou optando por segurar na menina.
Quem sabe ela não me dá uma mão, pensou o garoto? Não, garotos-sem-noção não pensam.
Os dois afundaram. Mas antes, ainda houve tempo para que ela gritasse pelo nome da professora de forma audível e desesperada.
Blop, blop, volta para a superfície a tempo de ver a professora atravessar rapidamente de um lado ao outro da piscina, num salto digno de Tom Cruise em Missão Impossível. Agarra o moleque afogante e afogado. Mary, porém, esgotada e tendo engolido toda aquela água mijada e clorada, tenta se agarrar na professora, afinal ela também queria ser resgatada.
Não, você sabe nadar, disse-lhe.
Foi assim que com apenas oito anos, Mary começou a ver que sua missão era se auto-socorrer. Daí em diante seria vista como capaz, equilibrada, centrada, ponderada. Testava os limites dos outros para, quem sabe, demovê-los dessa idéia estranha. Mas quanto mais falava bobagem, era antipática, arrogante, confiante e, assim, irritando muita gente, todos ainda pareciam acreditar que ela sabia realmente nadar e que não importava o que acontecesse, Mary sempre conseguiria evitar seus próprios afogamentos.
Nossa, ótimo!
bjs
rey
Engraçado, depois relendo meu post me dei conta de que o poderada estava errado. Eu queria ter dito ponderada. Mas acho que o poderada, de poder, talvez tenha sido “sem querer” mais adequado mesmo.